Fragmento 144
Suelen exalava um cheiro que me expulsava da cama, no início das tardes, quando eu ainda estava deitado no quarto da frente, enfadonho, enfrentando o calor que deixava meu corpo pregado de suor, na angústia de encontrar às pressas minhas havaianas brancas, meio amareladas pelo uso, toda vez que suspeitava ouvir seus passos na calçada para me arriscar num sol que me ardia as costas. Ficava com o calção do treino e a camisa no ombro, como desculpa descabida, para sentir seu cheiro e imaginá-la como eu quisesse toda vez que ela passasse por mim de vestido solto naquele corpo de mulher libertina, que eu sempre acreditei ter sido feito para a depravação. Agarrava meu calção com força, em lapsos incontroláveis de prazer e instinto, ao sentir o cheiro de mulher faceira em um pensamento que revelava tetas firmes e grandes, desnudas em um beco qualquer da minha rua; minha masculinidade era instigada por aqueles mamilos rosados, que encontram o culme em grandes seios fartos de uma qualquer que merecia ser domada por mim. Aqueles segundos de tensão na calçada, em que o impulso me empurrava para o desejo de alisar aquele corpo com força e devassidão, me roubava também a coragem de dizer que ela era minha puta em pensamento, toda vez que exercitava intensamente minha masculinidade no quarto de portas trancadas, desejando-a como uma presa encurralada que iria para o abate.
Alecto Grego