Henri Wallon
Henri Wallon (1879-1962)
Militante apaixonado, o médico, psicólogo e filósofo francês mostrou que as crianças têm também corpo e emoções (e não apenas cabeça) na sala de aula.
Apaixonado (tanto na política como na educação), dizia que reprovar é sinônimo de expulsar, negar, excluir. Ou seja, "a própria negação do ensino".
Fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos, chamados campos funcionais que se comunicam o tempo todo: o movimento, a afetividade, a inteligência (cognição) e a formação do eu como pessoa.
Os quatro campos funcionais
O movimento: É pela interação com os objetos e com o seu próprio corpo – em atitudes como colocar o dedo nas orelhas, pegar os pés, segurar uma mão com a outra que a criança estabelece relações entre seus movimentos e suas sensações e experimenta, sistematicamente, a diferença de sensibilidade existente entre o que pertence ao mundo exterior e o que pertence a seu próprio corpo. (GALVÃO, 2007, p.51)
A afetividade: é a primeira forma de interação com o meio-ambiente, sendo a motivação do movimento. É o elemento mediador das relações sociais: na interação com o outro, desenvolvem-se sinalizações afetivas específicas como medo, alegria, raiva, tranquilidade etc. São a base da inteligência.
A cognição está relacionada com duas atividades cognitivas humanas: o raciocínio simbólico e a linguagem. É através dela que a criança vai organizando as informações provenientes do seu meio e do seu organismo, que inicialmente se apresenta de forma global, confusa, sem distinção da relação que as une. A pessoa é o campo funcional que coordena os demais. É o responsável pelo desenvolvimento da consciência e da identidade do eu.
As relações entre os três primeiros campos funcionais não são harmônicas, de modo que constantemente surgem conflitos entre eles. A influência do orgânico e do social.
Para Wallon, o fator orgânico é a primeira condição para o desenvolvimento do pensamento; ressalta, porém, a importância das influências do meio. A pessoa é o resultado de influências sociais e fisiológicas, de modo que o estudo do psiquismo não pode desconsiderar nem um nem outro aspecto do desenvolvimento humano.
Por outro lado, as potencialidades psicológicas dependem especialmente do contexto sociocultural. O desenvolvimento do sistema nervoso, então, não seria suficiente para o pleno desenvolvimento das habilidades cognitivas.
Estágios do Desenvolvimento
Ao contrário de Piaget, Wallon não acredita que os estágios de desenvolvimento formem uma sequência linear e fixa, ou que um estágio suprima o outro. Para Wallon, o estágio posterior amplia e reforma os anteriores. Para ele, o desenvolvimento é permeado de conflitos internos e externos, acreditando ser natural que ocorram rupturas, regressões e reviravoltas.
A sequência de estágios proposta por ele é a seguinte:
Impulsivo Emocional (0 a 1 ano)
Sensório-Motor e Projetivo (1 a 3 anos)
Personalismo (3 a 6 anos)
Categorial (6 a 11 anos)
Puberdade e Adolescência (11 anos em diante)
Estágio Impulsivo Emocional (0 – 1 ano)
Características gerais:
- Campo funcional predominante: afetivo.
a) Etapa da Impulsividade motora (0 - 3 meses)
→Característica principal: impulsividade motora pura - alívio de sensações de
desconforto e de tensão.
b) Etapa Emocional (3 – 12 meses)
→Característica principal: atividades circulares – movimentos repetidos
intencionalmente pela criança; percepção de que a própria ação pode gerar
efeitos no ambiente.
Estágio Sensório-motor e projetivo (1 – 3 anos)
O interesse da criança se volta para a exploração sensória motora do mundo físico (sensibilidade exteroceptiva). As aquisições da marcha e da preensão possibilitam-lhe maior autonomia na manipulação de objetos e na exploração de espaços. Outro marco fundamental deste estágio é o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem
Estágio do Personalismo (3-6 anos)
Características gerais:
- Campo funcional predominante: afetivo.
- Principal tarefa do estágio: constituição do eu psíquico.
- Início do processo de construção e afirmação da própria identidade.
Estágio do Personalismo (3-6 anos)
Três etapas ou fases:
I – Oposição : Caracterizada pela necessidade de se auto afirmar, de impor sua
visão pessoal, de se constituir e de se diferenciar do outro.
II – Sedução ou Idade da graça: A criança agora tem necessidade de ser
admirada, de sentir que agrada aos outros, pois só assim poderá se admirar
também.
III – Imitação: A imitação passará a ser de um papel, de uma personagem, de
um ser preferido e muitas vezes desejado.
Estágio Categorial (6-11 anos)
Características gerais:
- A criança aprende a conhecer como pessoas pertence a diferentes grupos, exercendo papeis e atividades variados. Toma conhecimentos de suas possibilidades, adquirindo um conhecimentos mais completo e concreto de si mesma.
- Nesta etapa, ela aprende a denominar corretamente os objetivos familiares, e separa-los de sua própria existência e percebe a existência das coisas independentemente de sua pessoa.
- Estágio de maior estabilidade
- Exploração mental do mundo físico.
- Ampliação da capacidade de atenção (autodisciplina mental).
Estágio da Puberdade e da Adolescência (12 - 16 anos)
Consequências
- Necessidade de se reapropriar de seu corpo – relação conflituosa com o espelho.
- Necessidade de consolidar a própria identidade – interesse voltado para os próprios interesses.
- Ambivalência de atitudes e sentimentos.
- Período de oposição.
- Afastamento dos pais e aproximação dos pares.