Quando não usar vírgula em ‘porém’?

O português como língua viva, autônoma ─ e arbitrária

1. Tecnicamente, “porém” é uma conjunção adversativa.

Mas “porém” pode aparecer dentro de um termo, ligando dois adjetivos, sem atuar como conjunção entre orações.

Exemplo:

Cabe ao jornalismo o papel ─ ingrato porém indispensável ─ de lidar com o que a sociedade preferiria não encarar.


2. O que acontece na sua frase?

No trecho:

“ingrato porém indispensável”

“porém” não está ligando orações, mas sim coordenando dois adjetivos no mesmo sintagma.

Nessa posição, ele se comporta como um conector interno ao grupo de palavras, e não como a conjunção adversativa tradicional. Por isso não recebe vírgulas.


3. Como chamamos isso?

Esse uso específico costuma ser descrito pela gramática como:

conjunção adversativa com valor de conectivo intraoracional,

ou

conjunção adversativa entre termos,

ou ainda

conector adversativo no interior do sintagma nominal/adjetival.


4. Exemplos do mesmo tipo

“uma atitude simples porém eficaz”

“um caminho difícil porém necessário”

“uma tarefa longa porém possível”

Em nenhum desses casos há vírgula, porque porém não está entre orações.