‘Mim’ pode ser sujeito?
O português como língua viva, autônoma ─ e arbitrária
“Eu” é costumeiramente sujeito ou predicativo do sujeito, e “mim” geralmente exerce função de objeto (complemento).
Função de sujeito
Eu vou à escola.
O termo que pratica a ação expressa pelo verbo sem estar precedido de preposição (ou a quem ou a que o verbo se refere) é o sujeito.
Função de predicativo do sujeito
O culpado sou eu.
“Eu” é o termo que atribui uma característica ao sujeito (“O culpado”), logo, é predicativo do sujeito.
Função de objeto
Ele trouxe o livro para mim.
“Mim” é objeto indireto (regido pela preposição “para”).
Falaram de mim o tempo todo.
“Mim” é objeto da preposição “de”.
Atenção!
“Mim” nunca é objeto direto, pois objetos diretos não são precedidos de preposição.
“Mim” pode vir antes do verbo?
Sim, em alguns casos; veja:
Podem ocorrer em várias posições na frase e desempenhar diferentes funções:
a) A mim, querem-me longe do que mais gosto.
Com função de adjunto adverbial de ênfase.
O pronome “mim” está precedido da preposição “a”, e o verbo principal (“querem”) tem o sujeito oculto (“eles”). A expressão “a mim” tem valor enfático e está anteposta à oração. Não é complemento do verbo, mas sim um termo de realce, equivalente a “quanto a mim”.
Alguns gramáticos classificam, no entanto, como complemento indireto antecipado se houver relação semântica forte com o verbo, mas aqui a função é mais discursiva (ênfase), já que o verbo “querer” tem seu objeto explícito (“me”).
b) O seu ódio a mim crescia dia a dia.
Com função de complemento nominal.
O substantivo “ódio” exige complemento introduzido pela preposição “a”: quem tem ódio a alguém. Assim, “a mim” completa o sentido de “ódio”.
c) Dei por mim ouvindo com atenção aquele discurso.
Com função de objeto indireto reflexivo.
Nesse caso, o pronome “mim” funciona como objeto indireto reflexivo do verbo “dar”. O falante é ao mesmo tempo o agente (quem dá por) e o paciente (quem é percebido).
Exemplos práticos
Na frase:
Será complicado para mim rescindir o contrato dos novos inquilinos.
Consideramos:
1. O verbo “rescindir” é impessoal e aceita o “mim” em vez de “eu”.
2. “Para mim” pode ser retirado da frase sem comprometer o sentido da mensagem. Entretanto, “para eu” não pode ser suprimido da frase, pois perderia o sentido lógico.
a) Foi muito difícil para mim colar os cacos do jarro.
Se retirar o termo “para mim”, a frase continuará com sentido.
b) Ontem não deu para eu corrigir as provas.
Se retirar o termo “para eu”, a frase perderá o sentido.
Outro exemplo clássico:
Foi muito difícil para mim estudar Medicina.
A frase está adequada à gramática normativa. O que há é apenas uma inversão na ordem da oração, optando pela ordem indireta.
Veja como ficaria na ordem direta:
Estudar Medicina foi muito difícil para mim.
Nas duas frases, o “para mim” tem função de complemento nominal, e não de sujeito, pois o sujeito oracional (aquele formado por meio de uma verbo) é: estudar Medicina.
Estudar medicina [sujeito] foi muito difícil para mim.
Se você retirar o “para mim” da frase e ela continuará fazendo sentido, então o pronome oblíquo “mim” não estará exercendo a função de sujeito; portanto, não conjuga o verbo. O pronome “mim” é apenas um complemento nominal do adjetivo, embora esteja próximo ao verbo.
