Correlação e paralelismo no texto
O que é correlação textual?
Correlação textual é o conjunto de relações lógicas e semânticas que ligam as partes de um texto: frases, períodos, parágrafos. Ela serve para que o texto faça sentido como um todo.
Em outras palavras: é como as ideias se conectam entre si.
Principais mecanismos de correlação textual
1. Conectivos (ou marcadores discursivos)
Palavras/locuções que explicam a relação entre enunciados: porém, entretanto, portanto, porque, assim, logo, entretanto, por exemplo, além disso, etc.
Ex.: Choveu muito; portanto, o jogo foi cancelado.
2. Referência e retomada (anáfora/catófora)
Usa pronomes, sinônimos ou expressões para ligar segmentos.
Anáfora: retoma algo já mencionado
Maria chegou. Ela trouxe bolo.
Catáfora: antecipa algo
Quando ele entrou, João sorriu. (onde "ele" refere-se a alguém que aparece depois)
3. Elipse e substituição
Omitir elementos que já estão claros ou substituí-los por outros (evita repetição e mantém o texto coeso).
Ex.: Comprei pão; você quer (pão) também? (elipse do substantivo no segundo segmento)
4. Progressão temática
Organização das ideias de forma que uma informação leve à próxima
(ex.: ideia geral → detalhes → exemplificação → conclusão).
5. Relações lógicas entre enunciados
Tipos comuns: causa/consequência, condição/concessão, comparação, exemplificação, adição, finalidade.
Causa: Como choveu, a rua alagou.
Condição: Se chover, não sairemos.
Concessão: Embora estivesse cansado, foi trabalhar.
Exemplos de correlação (certo × errado)
Certo: Estudei a noite toda; por isso, fui bem na prova.
(conectivo indica consequência — correlação clara)
Errado: Estudei a noite toda. Fui bem na prova.
(não há conectivo; a relação pode ser inferida, mas é mais fraca — bom em textos informais, ruim em textos argumentativos)
Certo (anáfora): O livro estava na mesa. Ele tinha a capa rasgada.
Errado: O livro estava na mesa. Isso tinha a capa rasgada.
(uso inadequado do pronome “isso” gera ambiguidade — qual “isso”?)
Como melhorar a correlação textual
Use conectivos adequados (não repetir sempre os mesmos).
Verifique retomadas pronominais: o referente deve estar claro.
Organize a progressão de ideias (ordem lógica).
Evite saltos abruptos: faça pequenas ligações entre parágrafos.
O que é paralelismo?
Paralelismo é a repetição de estruturas sintáticas (formas gramaticais) semelhantes em segmentos coordenados ou relacionados do texto. Ele cria ritmo, clareza e simetria além de ajudar a comparar/contrapor ideias com precisão.
Tipos principais
Paralelismo sintático (gramatical) — elementos coordenados com a mesma construção.
Ex.: Ele gosta de ler, de escrever e de viajar — os três verbos no infinitivo mantêm paralelismo além das preposições sempre repetindo.
Paralelismo semântico / retórico — repetição para efeito estilístico (antíteses, anáforas).
Ex.: Não pergunte o que o país pode fazer por você; pergunte o que você pode fazer pelo país. (paralelismo e antítese)
Paralelismo em correlações (conjunções correlativas) — pares como não só... mas também, tanto... quanto, quer... quer, ou... ou exigem estruturas paralelas depois de cada parte.
Ex.: Não só estudou, mas também trabalhou — ambos verbos no passado.
Exemplos (certo × errado)
Certo: Ela resolveu estudar, viajar e aprender.
Errado: Ela resolveu estudar, viajar e para aprender.
(a terceira forma "para aprender" quebra a simetria — corrija para "aprender")
Certo: Quer ganhar experiência, quer fazer networking, precisará participar do evento.
Errado: Quer ganhar experiência, quer fazendo networking, precisará participar do evento.
("ganhar" — infinitivo; "fazendo" — gerúndio; falta paralelismo)
Certo: Não só comprei o ingresso, mas também reservei o hotel.
Errado: Não só comprei o ingresso, mas também a reserva do hotel.
(formas diferentes; prefira: "reservei o hotel" para manter paralelismo verbal)
Regras práticas para paralelismo
1) Mantenha a mesma categoria gramatical (verbo, substantivo, oração) em itens coordenados.
2) Ao usar conjunções correlativas, confira se o que vem depois de cada parte tem a mesma estrutura.
3) Use paralelismo para reforçar contraste ou reforço (efeito estilístico).
4) Intersecção: como correlação textual e paralelismo trabalham juntos
Eles se complementam: a correlação textual organiza e liga as ideias; o paralelismo torna essa ligação mais clara, elegante e fácil de rastrear.
Exemplo combinado:
Para melhorar o ambiente de trabalho, é preciso escutar os funcionários, respeitar suas ideias e reconhecer seus esforços.
(correlação: lista de ações para o mesmo fim; paralelismo: verbos no infinitivo)
4) Erros comuns e como corrigi-los — lista rápida
Conectivos errados ou ausentes → insira o conectivo que declara a relação (causa, consequência, contraste).
Erro: Não respondeu. Perdeu pontos. → Como não respondeu, perdeu pontos. ou Não respondeu; por isso, perdeu pontos.
Retomada pronominal ambígua → substitua por nome ou reescreva a frase.
Erro: João conversou com João e ele disse que iria. → João conversou com Maria; ela disse que iria. (clareza)
Quebra de paralelismo em listas → alinhe categorias gramaticais.
Erro: Gosto de correr, nadar e para pedalar. → Gosto de correr, nadar e pedalar.
Conjunções correlativas sem simetria → mantenha estrutura idêntica.
Erro: Tanto estudar quanto trabalhar são cansativos. → Tanto estudar quanto trabalhar é cansativo. (ou: Estudar e trabalhar são cansativos.)
Saltos de tópico entre parágrafos sem transição → adicione frase de ligação (resumo, referência, avanço).
5) Dicas práticas para revisar textos
Faça duas leituras: uma só para coerência lógica (as ideias estão em ordem?), outra para coesão e forma (pronomes, conectivos, paralelismo).
Leia em voz alta — rupturas de paralelismo e conexões fracas soam estranhas.
Procure conjunções correlativas e verifique simetria.
Substitua pronomes ambíguos por nomes quando ficar em dúvida.
Varie conectivos, mas use os corretos ao significado (não use "porém" quando quer expressar consequência).
