A metáfora ontológica


Há um fenômeno que funde o conceito de abstrato e concreto por meio de a metáfora.

Veja o exemplo:

O amor é um café solúvel servido na tarde de domingo.

[amor] é substantivo abstrato;

[café solúvel] é substantivo concreto.

Logo, a ideia de que amor (conceito abstrato) é café solúvel (conceito concreto) se configura como uma metáfora ontológica.


1. Metáfora ontológica

É o termo mais próximo do que foi descrito acima, segundo a teoria da metáfora conceitual (Lakoff & Johnson, 1980).

Nesse tipo de metáfora, entidades abstratas são compreendidas em termos de entidades concretas, ou seja, “conceitos são coisas”.

Exemplo:

“O amor é um café solúvel servido na tarde de domingo.”

(O conceito abstrato de amor é projetado sobre o domínio físico e sensorial do café.)

Essas metáforas ontologizam o abstrato, ou seja, dão corpo, textura e materialidade a ideias imateriais.


2. Metáfora sinestésica (em certos casos)

Quando, além da concretização, há mistura de campos sensoriais (visão, paladar, tato, audição etc.), a figura também pode ser chamada de sinestesia.

Por exemplo: “a saudade tem cheiro de roupa guardada.”

Aqui o abstrato (“saudade”) é concretizado por um dado sensorial (“cheiro”).


3. Metáfora encarnada / concretização simbólica

Na crítica literária e nos estudos estilísticos, especialmente em poetas como Drummond ou Neruda, fala-se em “concretização simbólica” ou “encarnação do abstrato”, processo pelo qual um sentimento, valor ou ideia assume forma física ou imagética.

Exemplo:

“A esperança é uma coisa com penas” (Emily Dickinson).

Aqui há uma concretização simbólica da esperança como um pássaro.


4. Catachrese poética

Em alguns casos, quando a metáfora se torna mais ousada ou “imprópria” (no sentido de extrapolar os limites da analogia comum), ela pode ser descrita como catachrese, ou seja, uma metáfora de necessidade, quando o abstrato só pode ser dito pela via do concreto, pela falta de um termo literal.


5. Metonímia conceitual (dependendo do caso)

Às vezes, não há apenas substituição, mas associação direta entre o abstrato e o concreto, o que pode envolver uma forma de metonímia conceitual, um tipo de contiguidade semântica, mais do que comparação.