Literatura baiana: João Ubaldo Ribeiro


João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro nasceu na Ilha de Itaparica, Bahia, em 23 de janeiro de 1941, foi um escritor, jornalista e professor brasileiro, formado em direito e membro da Academia Brasileira de Letras. Faleceu em 18 de julho de 2014, no Rio de Janeiro.

Um dos traços marcantes da vida de João Ubaldo Ribeiro foi a amizade que cultivou com o cineasta Glauber Rocha, desde a adolescência até a fase adulta, da escola à faculdade de Direito, cursada na Universidade Federal da Bahia. Com Glauber Rocha editou revistas e jornais culturais e participa ativamente do movimento estudantil.

Em plena efervescência política do ano de 1964, João Ubaldo parte para os Estados Unidos, por meio de uma bolsa de estudos conseguida junto à Embaixada norte-americana, para fazer seu mestrado em Administração Pública e Ciência Política na Universidade da Califórnia do Sul. Volta ao Brasil em 1965 e passa a lecionar Ciências Políticas na Universidade Federal da Bahia.

Com o prefácio de Glauber Rocha, João Ubaldo tem seu primeiro romance impresso, "Setembro não faz sentido". Em 1971 lança o romance "Sargento Getúlio", merecedor do Prêmio Jabuti concedido pela Câmara Brasileira do Livro, em 1972. Segundo a crítica, esse livro filiou seu autor a uma vertente literária que sintetiza o melhor de Graciliano Ramos e o melhor de Guimarães Rosa.

Entre suas obras destacam-se o livro de contos "Vence cavalo e o outro povo" (1974), "Vila Real" (1979) e "Política" (1981), livro até hoje adotado por inúmeras faculdades, além da obra "Livro de Histórias" (depois republicado com o título de "Já podeis da pátria filhos") no mesmo ano. Em 1982 dá início ao romance "Viva o povo brasileiro", que se passa na Ilha de Itaparica e percorre quatro séculos da história do país. No ano seguinte estréia na literatura infanto-juvenil com "Vida e paixão de Pandonar, o cruel".

Seu livro "Sargento Getúlio" chega aos cinemas, num filme dirigido por Hermano Penna e protagonizado por Lima Duarte. O longa-metragem receberia os seguintes prêmios no Festival de Gramado: Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Som Direto, Melhor Filme, Grande Prêmio da Crítica e Grande Prêmio da Imprensa e do Júri Oficial. Em 1984 é a vez de seu livro "Viva o povo Brasileiro" ser editado e receber o Prêmio Jabuti na categoria "Romance" e o Golfinho de Ouro, do governo do Rio de Janeiro.

Em 1989 lança o romance "O sorriso do lagarto" e, logo em seguida, em 1990, publica "A vingança de Charles Tiburone", sua segunda experiência em literatura infanto-juvenil. Em 1993 adapta sua obra "O santo que não acreditava em Deus" para a série Caso Especial, da Rede Globo, que teve Lima Duarte no papel principal. No dia 7 de outubro é eleito para a cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras, na vaga aberta com a morte do jornalista Carlos Castello Branco.

João Ubaldo recebeu o prêmio Die Blaue Brillenschlange, concedido ao melhor livro infanto-juvenil sobre minorias não-europeias, pela edição alemã de "Vida e paixão de Pandonar, o cruel". Também lança o livro de crônicas "Um brasileiro em Berlim", sobre sua estada naquela cidade, e "A Casa dos Budas Ditosos", em abril de 1999. Em 2008, o autor foi agraciado com o Prêmio Camões, considerado o maior galardão da língua portuguesa.

Características

O estilo literário de João Ubaldo Ribeiro é basicamente traçado pela ironia e pelo contexto social do Brasil, abrangendo também cultura portuguesa e cultura africana. Antônio Olinto, escritor, crítico literário, diplomata e também membro da Academia Brasileira de Letras, diz que Ubaldo constrói sua estrutura muitas vezes começando a história pelo meio, como se ela já houvesse existido antes.

"Mas como falar deste país sem o lanho do humor? Em tudo insere João Ubaldo a visão do humorista, que vê o que não aparece, identifica a nudez das gentes, entende os pensamentos ocultos", diz Olinto, no mesmo artigo. Segundo ele, em Ubaldo Ribeiro o humor atinge seu auge em Vencecavalo e o Outro Povo.

Olinto também reforça que "no fundo, chega João Ubaldo à criação de um país e de um povo, país dele e povo dele, mas também país que existe fora das palavras e povo que ri fora e dentro das palavras. As duas realidades - a real, que envolve o caminho de cada brasileiro e a realidade não menos real, mas com outras vestiduras - mesclam-se na obra de João Ubaldo de tal maneira que ele acaba promovendo uma invenção do Brasil e uma invenção de cada um de nós

Nisso - e no modo como pega no país para o mostrar pelo avesso, e nas gentes desse país, para mostrá-las de cara lavada - provoca uma reação de espanto e incredulidade. "Para Antonio, João Ubaldo é o "porta-voz" do Brasil, devido os inúmeros materiais produzidos por ele quanto às condições sociais que condizem com a atualidade nacional. Essas análises, não só encontradas em livros, podem ser descobertas também na grande gama de artigos escritos por Ubaldo em diversos jornais do país. No artigo, Olinto termina dizendo que "inventando um país, João Ubaldo inventou-se a si mesmo e foi eleito pelos seus leitores o porta-voz deste país".