Funções sintáticas da palavra 'que'

MARIANA RIGONATTO

CONJUNÇÃO INTEGRANTE X PRONOME RELATIVO


Conjunção integrante

a) O que é uma conjunção integrante quando introduz uma oração subordinada substantiva.

b) Ele não tem valor semântico próprio (não retoma nenhum termo da oração principal), apenas serve como elemento de ligação.


Ela disse que viria amanhã.

→ O que apenas introduz a oração subordinada substantiva objetiva direta (que viria amanhã).


É necessário que todos participem.

→ Aqui, o que introduz a oração subordinada substantiva subjetiva (que todos participem).


DICA

Se você puder trocar o trecho por isso, o que é conjunção integrante.

Ela disse isso. → Funciona! Então o que é uma conjunção integrante.


Pronome relativo

a) O que é pronome relativo quando retoma um termo anterior (antecedente), servindo como elo entre duas orações. 

b) Ele exerce função sintática dentro da oração subordinada adjetiva (pode ser sujeito, objeto, etc.).


O livro que comprei é interessante.

→ O que retoma o livro (antecedente) e funciona como objeto direto do verbo comprei.


A pessoa que chegou é minha amiga.

→ O que” retoma a pessoa e exerce a função de sujeito de chegou.


DICA

Se você conseguir trocar o que por outro pronome relativo (o qual, a qual, os quais, as quais), então ele é pronome relativo.

Ex.: O livro o qual comprei foi caro.


RESUMO

Que = conjunção integrante → não retoma nada, apenas introduz oração substantiva.

Que = pronome relativo → retoma um antecedente e exerce função sintática dentro da oração.


Além disso, a palavra que pode exercer diferentes funções sintáticas nos enunciados; veja:

a) Conjunção coordenativa explicativa: liga duas orações coordenadas, e a segunda oração é uma explicativa.

Exemplo:

Não insista, (por) que eu não lhe emprestarei dinheiro!


b) Conjunção coordenativa aditiva: liga duas orações coordenadas, e a segunda oração é uma aditiva.

Elas reclamavam que reclamavam, até que, finalmente, foram atendidas.


c) Conjunção coordenativa alternativa: liga duas orações coordenadas, e a segunda oração é uma alternativa.

Exemplo:

Uma que outra roupa servia-lhe perfeitamente.


d) Conjunção subordinativa substantiva: liga a oração principal à subordinada substantiva (subjetiva objetiva direta, objetiva indireta, completiva nominal, predicativa, apositiva).

Exemplo:

Parece que vai chover.

Parece isso.

Isso parece.

função de sujeito: Parece que vai chover.

(oração subordinada substantiva subjetiva)


e) Conjunção subordinativa causal: liga a oração principal à oração subordinada adverbial causal.

Exemplo:

Ele nunca me visita, que o trabalho o impede de viajar por muito tempo.


f) Conjunção subordinativa consecutiva: liga a oração principal à subordinada adverbial consecutiva.

Exemplo:

Ele ficou tão enciumado que mandou desligar o telefone.


g) Conjunção subordinativa concessiva: liga a oração principal à subordinada adverbial concessiva.

Exemplo:

Relevante que seja esta informação, não me interessa.


h) Conjunção subordinativa comparativa: liga a oração principal à subordinada adverbial comparativa.

Exemplo:

Viajar de avião é mais prazeroso do que viajar de carro.


i) Conjunção subordinativa final: liga a oração principal à subordinada adverbial final.

Exemplo:

Vamos torcer, que (para que) a economia melhore.


j) Pronome relativo: inicia oração subordinada adjetiva e possui a mesma função do termo a que se refere.

Exemplo:

Gosto de pessoas que tenham bom humor.


k) Pronome interrogativo: inicia uma unidade interrogativa direta ou indireta e pode ter a função de adjunto adnominal ou de um dos termos da oração.

Exemplo:

Queremos entender o que você quis realmente dizer naquele momento.

(núcleo do objeto direto do verbo entender e neste caso se caracteriza como uma pergunta indireta).


l) Pronome indefinido: aparece em unidades exclamativas com a função de adjunto adnominal.

Exemplo:

Que notícia maravilhosa você acaba de me dar!


m) Substantivo: aparece escrito com um acento circunflexo e possui a função de núcleo do adjunto adnominal de um dos termos da oração.

Exemplo:

Essa pintura tem um quê de Picasso.


n) Advérbio: possui a função de adjunto adverbial de intensidade e é utilizado para intensificar um adjetivo ou um advérbio.

Exemplo:

Que inocente fui em acreditar em suas juras de amor!


Adjunto adverbial

Esta é a casa em que vivi durante algum tempo.

(Vivi na casa durante algum tempo)

Adjunto adverbial de lugar


o) Preposição: na linguagem coloquial, pode ser equivalente à preposição de, e também pode ter valor das preposições acidentais salvo, exceto e senão.

Exemplo:

Temos que (de) estudar para as provas.

Compareceu à reunião sem outras justificativas que (senão) as apresentadas anteriormente.


p) Interjeição: para manifestar espanto, perplexidade, admiração, surpresa; expressão típica de frases construídas com o uso de interjeições.

Exemplo:

Quê (ou Que)! Tal medida é absurda!


q) Partícula de realce: não possui função sintática e é utilizada apenas para dar realce, portanto, pode ser retirada do enunciado sem que haja prejuízo para a compreensão dele.

Exemplo:

Que saudades que eu tenho dos nossos momentos juntos!


r) Agente da passiva

Este é o jornal por que fui homenageado.

(Fui homenageado pelo jornal)